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Dune: Awakening | Review

Confesso que demorei para escrever a análise de Dune: Awakening. Não foi por preguiça ou má vontade, mas pela minha curiosidade em me aprofundar no jogo da Funcom disponível para PC via Steam. Sua curva de aprendizado é bem diferenciada, digamos assim. Mas a verdade é que o jogo traz uma experiência que te devora, te deixando imerso no deserto de Arrakis, um dos grandes cenários da obra de Frank Herbert. Aliás, o jogo traz consigo todo o peso filosófico, político e ambiental desta grande obra, conhecida por muitos pelas adaptações cinematográficas.

Mas agora, imagine só, este mundo todo ser transformado em um sistema vivo, hostil e incrivelmente detalhado no mundo de Duna? Pois é, a ideia dos desenvolvedores é justamente essa. Mas afinal de contas, será que isso realmente funciona, ou Dune: Awakening é só mais um MMO em meio a tantos? Essa e outras respostas serão respondidas nesta análise!

Um mundo paralelo ao conhecido do livro e dos filmes

Dune: Awakening se passa em uma linha do tempo alternativa do universo criado por Frank Herbert, onde Paul Atreides jamais nasceu. Essa ausência muda completamente o curso da história conhecida pelos fãs e abre espaço para uma reimaginação criativa dos conflitos entre as Grandes Casas. Sem o Messias de Arrakis, o equilíbrio político permanece instável. Com isso, entramos neste mundo como um sobrevivente anônimo no coração do deserto, visando achar nosso lugar em meio às intrigas, às lutas por especiaria e às ameaças que surgem. Essa escolha narrativa é esperta: permite liberdade criativa sem romper com o espírito da obra original. E dá muito certo!

Ao longo da narrativa, cruzamos com personagens icônicos e referências profundas da história original, mas sem depender totalmente do enredo clássico, que é um épico. A história se desenrola de forma fragmentada, muitas vezes emergindo das missões, diálogos e ruínas espalhadas pelo enorme deserto. Cada decisão, seja ao se aliar a uma Casa, desenvolver uma tecnologia ou explorar ruínas esquecidas, molda a forma como interpretamos o papel de nosso personagem em Arrakis. Portanto, tal como em um bom MMO, a ideia não é a de uma narrativa linear, mas sim uma construção gradual e emergente, onde cada um escreve sua própria saga. A meu ver, tudo funciona muito bem aqui.

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Um mundo paralelo, mas fiel às origens. (Imagem: Divulgação)

Um mergulho profundo (profundo mesmo) em Arrakis

Olha, demorei mais de 3 horas para entender a dinâmica de Dune: Awakening. Mas não foi por problemas técnicos. Todo o mundo ao redor, muito bem apresentado pelo jogo, acaba prendendo nossa atenção. Inicialmente, fui sugado por horas a fio sem perceber bem o que fazer. Portanto, lutava do jeito que dava, morria, tentava entender e, por fim, consegui sacar a pegada bem realista de sobrevivência e criação. Depois de mais de 4 horas, finalmente consegui sair do início e atravessar o deserto. E uma coisa que notei é que o tempo se dissolve em Dune: Awakening. O planeta não é só cenário; é protagonista. O mapa é surreal. É grande, detalhado e pode ser considerado um verdadeiro ecossistema.

A ambientação de Arrakis é, sem exagero, uma aula de design e de preocupação com a obra original. As bases Harkonnen exalam brutalismo militar, enquanto os assentamentos Atreides mantêm um ar nobre mesmo em meio à total decadência. Não há nada jogado ali por acaso. Os destroços imperiais contam histórias silenciosas de guerras passadas, que podem ser contadas por áudios encontrados. Com isso, o mundo de Dune: Awakening pulsa, respira e te lembra a cada segundo que tudo ao seu redor está tentando te matar.

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Reze para não passar por isso… (Imagem: Divulgação)

Para muitos, a curva de aprendizado pode ser um grande problema. No meu caso, não foi simples, mas o aprendizado foi extremamente gratificante. Esse tipo de sensação é uma das melhores em um jogo, sobretudo se você é fã deste universo e gosta de desafios. Confesso que Dune: Awakening me pegou de uma tal maneira que, se eu fosse opinar nos primeiros minutos, nunca falaria isso. Portanto, é um jogo que, por conta disso, pode afastar muitas pessoas. Porém, digo que a paciência e a exploração desse mundo valem muito a pena.

Sobrevivência com propósito

Se você está acostumado com jogos de sobrevivência onde a água é só mais uma barrinha para preencher, aqui o bagulho é totalmente diferente. Tal como no universo original, a água é um bem raro, literalmente sagrada para os povos de Arrakis. E cada gotícula importa. E não só no gameplay, mas em todo o simbolismo do que o jogo propõe. O sistema de destilação corporal baseado nos trajes Fremen é brilhante, o que é surreal. Matar um inimigo pode ser tanto uma decisão estratégica quanto um dilema ético. Afinal, você pode tirar o sangue dos inimigos mortos para transformá-lo em água. É praticamente uma mensagem para um futuro que está cada vez mais próximo.

Outro detalhe rico do jogo é a progressão tecnológica, integradíssima ao enredo. Aprender a montar um reciclador de umidade ou entender como extrair água da atmosfera ou das plantas não é só mero desbloqueio de coisas a serem construídas; é vivenciar todo o processo de adaptação dos habitantes de Arrakis a um ambiente que, honestamente, nunca teria humanos vivos, se não fossem essas tecnologias surreais criadas na mente de Frank Herbert. Portanto, cada nova ferramenta parece um passo real em direção à sobrevivência, e não apenas mais uma cosinha adicionada ao sistema de progressão. Isso é imersão!

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Acredite, a política de Dune: Awakening faz parte do ambiente de sobrevivência. (Imagem: Divulgação)

Combate: técnica sobre força bruta

Olha… o combate em Dune: Awakening divide opiniões. Mas ele tem um conceito interessante por trás, sobretudo quando vamos evoluindo os armamentos e técnicas. Ao contrário da maioria dos MMOs, onde a ideia é simplesmente sair matando inimigos, com o caos e a velocidade reinando, aqui o timing e a paciência são pontos mais considerados. Detalehes como, por exemplo, os escudos pessoais, inspirados diretamente na franquia, mudam tudo, obrigando o uso de ataques precisos, e não rápidos.

Com isso, cada luta toma uma feição diferenciada. É menos sobre spam de habilidades e mais sobre ler as defesas e armas utilizadas pelos inimigos. O jogo também conta com armas de fogo, mas elas acabam sendo anuladas contra alguns inimigos e seus escudos, a depender da munição utilizada. Isso reforça a necessidade de entender com quem se luta e qual será a melhor abordagem. Em muitos momentos, evito uma abordagem direta, atirando sempre na cabeça dos inimigos e mudando para a luta corporal, sobretudo com alguns dos inimigos que usam escudos. Em outros casos, prefiro usar munição que ultrapasse as barreiras. Tudo depende do contexto.

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Os combates alternam entre intensidade e um pouco de tédio. (Imagem: Divulgação)

Porém, mesmo com todo esse cuidado, confesso que fiquei com a sensação de que o sistema de combate ainda precisa ser um pouco mais polido. Bem pouco mesmo. O problema é que, em alguns momentos, ele fica meio truncado, repetitivo, e em outros, parece que a IA está ali só para cumprir tabela, oferecendo pouca dificuldade. A parte tática, como disse acima, é bacana, mas falta aquele impacto que faz você querer entrar em combates só pela diversão. Só senti isso ao lutar com alguns chefes, se é que posso chamar assim.

Construção que faz sentido

Não é novidade que a parte de construção de Dune: Awakening meio que foi herdada de Conan Exiles. Felizmente, ela foi aprimorada e conectada à narrativa. Aqui, você não está montando um lugar só por morar. Está lutando contra o ambiente, sobretudo as constantes tempestades de areia. Portanto, cada parede, filtro de ar ou gerador tem um motivo muito claro de existir, inclusive se tornando um ponto de renascimento após morrer para inimigos ou vermes da areia. Ou seja, tem todo o sentido a construção do lar, inclusive para manter os veículos inteiros contra o sol e todas as desgraças do deserto.

A variedade arquitetônica impressiona: de fortalezas quase militaristas a refúgios minimalistas no estilo Fremen, há espaço para diferentes estilos, sendo cada um deles proposto pelo jogo com uma ideia totalmente imersiva e funcional. Ainda assim, prepare-se para abandonar tudo e se mudar com frequência, sobretudo com o decorrer da narrativa. A necessidade de deslocamento em Dune: Awakening é constante e, embora um bocadinho frustrante no começo, se encaixa perfeitamente com o espírito nômade do universo de Duna. Atravessar parte do deserto, o primeiro desafio proposto do jogo, só é possível após a construção de nosso primeiro veículo.

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Construir é algo essencial. (Imagem: Divulgação)

Veículos são essenciais em Arrakis

Como dito acima, os veículos em Dune: Awakening não são meros acessórios estilizados, tal como em outros jogos. Eles são totalmente essenciais para sobreviver em Arrakis. Ou seja, sem eles, atravessar o deserto não é só perigoso, mas é totalmente impossível. Afinal de contas, os vermes da areia só estão esperando a gente dar um mole para nos devorar. E quando isso acontece, todo o nosso loot vai para o saco, sendo impossível de recuperar Assim, a primeira vez que você pilota uma moto de areia e sente o vento virtual batendo na cara enquanto escapa de um Shai-Hulud (expressão dos Fremen que significa verme da areia) é uma daquelas experiências que só o mundo de Dune: Awakening pode proporcionar.

Os ornitópteros, aqueles veículos voadores que parecem libélulas, são um espetáculo à parte. Voar neles é um deleite tanto mecânico quanto estético, algo bem único do universo de Duna. E o mais legal é que cada veículo tem uma função muito bem delimitada: motos para exploração rápida, caminhões para transporte pesado, ornitópteros para domínio aéreo. Tudo aqui faz sentido, se levarmos em consideração a movimentação em um deserto gigantesco.

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Os veículos são importantes aqui. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar Dune: Awakening?

Sinceramente, o que pude perceber até então é que Dune: Awakening é uma verdadeira carta de amor ao universo criado por Frank Herbert. Uma carta que não tem medo de ser complexa, desafiadora e, por vezes, fiel até demais aos problemas ambientais e políticos, algo que dá uma camada extra de desafio a um jogo que poderia ser apenas mais um MMO, mas não é, sendo este um jogo que posso considerar como ousado e especial. A Funcom arriscou muito ao criar um MMO survival com base em uma franquia tão densa, e o resultado, majoritariamente, é impressionante demais, sendo inclusive uma ótima porta de entrada no mundo de Duna para quem ainda não conhece.

Porém, como eu disse anteriormente, por conta da curva de aprendizado e o tempo necessário para se desenvolver no jogo, este não é um título para qualquer um. Se você curte uma experiência casual, com progressão bem rápida e recompensas constantes, passe longe. A ideia de Dune: Awakening é outra. Mas se está disposto a se perder em um dos mundos mais hostis e fascinantes já criados pela mente humana, a aprender a cada passo e a saborear cada gota de água conquistada com esforço, então Arrakis te espera com todos os seus desafios.

Com gráficos incríveis, uma dublagem muito bem executada, mecânicas de sobrevivência profundas e respeito total ao material original, Dune: Awakening merece ser jogado. Só falta mesmo uma afinadinha de leve nos sistemas de combate para se tornar uma verdadeira joia do gênero.

*Review feita em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Funcom.

Dune: Awakening

R$ 179,00
8.6

História

8.8/10

Jogabilidade

8.5/10

Gráficos e sons

8.5/10

Extras

8.4/10

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.

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